Uma das coisas que mais odeio nesta vida é o oportunismo. Acho que é uma das atitudes mais perversas do ser humano porque, muitas vezes, tira proveito da desgraça alheia. Me lembro bem disso durante a cobertura da inundação em Santa Catarina, em 2008. Na época várias cidades ficaram debaixo dágua e milhares de família foram desabrigadas. A região conhecida como Morro do Baú, um “panelão” entre montanhas que abrigava dezenas de pequenas propriedades rurais, desabou sobre tudo matando mais de cem pessoas, dizimando famílias inteiras. Nos dias que se seguiram à catástrofe o que vi pelas ruas das cidades atingidas foi deplorável. Além do cenário de destruição e do flagelo da população, o que mais me revoltou foi a atitude execrável dos que não foram atingidos. Botijões de gás chegaram a ser vendidos por mais de cem reais quando, na época, custavam pouco mais de trinta reais. Vi pessoas vendendo água de torneira em garrafas plásticas, direto da mangueira do jardim. Também presenciei os preços de supermercados subirem astronomicamente. Tudo isso para tirar proveito de um momento de necessidade das pessoas quando, na verdade, o momento era de solidadriedade.
A economia tem como regra o aumento de preços ou valorização de bens quando há pouca oferta de mercado e a demanda é grande. Até aí, tudo bem. Faz parte do mecanismo. Agora, se valer da descgraça alheia, é no mínimo lamentável.
Tivemos outro exemplo recentemente quando o governo anunciou reajuste no preço dos combustíveis. O aumento para os usineiros, ou seja, lá na fonte de produção, foi de pouco mais de seis por cento. Imediatamente, o valor nas bombas subiu DESCARADAMENTE. Em alguns postos foi possível confirmar aumentos de mais de 40 centavos por litro, o que dá quase 20% de reajuste, enquanto o normal deveria ser perto de 4%.
Para citar mais um exemplo, este em São Paulo, desta vez as vítimas foram os mototatxistas e motoboys. Com a nova lei que os obriga a ter um kit de segurança para circular (antena corta linha de cerol, colete reflexivo, bagageiro, adesivos, etc) começou uma corrida atrás destes ítens. Não foi surpresa nenhuma saber que o preço do material disparou no mercado. Foi observado aumentos de até 100% no preço dos produtos. Outra barbaridade aconteceu quando o governo obrigou os planos de saúde a aceitar determinados tipos de procedimentos que antes não eram aceitos. O que aconteceu? O preço das mensalidades subiu. Sem falar ainda no “desconto” que o governo deu nas contas de luz (uma redução obrigatória por processo judicial), compensado depois pelo aumento no preço dos combustíveis. É mole?
Imagino agora, o quanto subirá o preço das forrações acústicas anti-chamas, dos extintores de incêndio, da mão de obra de especialistas e outros produtos e serviços necessários às casa noturnas, depois da tragédia de Santa Maria.
Em resumo, oportunismo é a arte (nefasta, claro) de lucrar em cima da necessidade alheia, aproveitar-se das circunstâncias para tirar vantagem. E isso vem de todos os lados – do governo, do comércio, dos prestadores de serviços, das escolas, enfim, de todo um universo do qual nós consumidores dependemos. E não temos muito o que fazer. Nossas leis são inócuas contra esse tipo de coisa. Deixar de comprar? Deixar de pagar? Deixar de usar determinado tipo de serviço? Seria a saída não fosse o oceano de cartéis em que vivemos. É o velho ditado: “se correr o bicho pega, se ficar o bicho dilacera e come”. Tente dormir com isso e seja feliz!