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quinta-feira, 10 outubro, 2024

Tarifa revogada! Mas pode ser uma armadilha.

Vitória nas ruas: tarifas rebaixadas
Vitória nas ruas: tarifas rebaixadas

Quero fazer um “mea-culpa” hoje em relação a o que eu disse no último artigo. Eu afirmei que o brasileiro não sabia fazer manifestação, um protesto decente. Isso diante da onda de baderna e vandalismo que vimos nos protestos pelo Brasil afora e questionando porque isso só foi feito agora. Ainda continua não sabendo, precisa aprender muito com a história. Mas o volume de pessoas nas ruas e as vitórias conquistadas em torno da tarifa de ônibus nos ensinaram que esse é o caminho, o começo, o despertar. Nunca se viu uma união tão grande em torno de um só grito. Nem mesmo nas Diretas Já ou no impeachment de Collor. Resultado: tarifas de ônibus baixadas em várias capitais e reajustes revogados em quase todo o país. Hoje, quarta-feira, foi a vez de São Paulo e Rio de Janeiro cederem. E assim se pode dizer: É, o povo realmente acordou e tem força!”.

Já sabemos também que a bagunça e o quebra-quebra registrados foram patrocinados por pequenos grupos de vândalos que não comungam com o ideal da maioria e apareceram só para tentar desacreditar o movimento. A grande massa mesmo mostrou maturidade, união e força. Apesar dos xingamentos que nós da mídia sofremos nas ruas, vimos que isso faz parte de um contexto secundário, de uma provocação apenas. Mas o foco foi mantido e vitória conquistada. Só quero lembrar aos mais exaltados que foi exatamente a mídia que revelou ao mundo a força que esse movimento popular teve.

O que me amedronta mais nessa história toda é o discurso político em São Paulo que me leva a crer que essa revogação do reajuste da tarifa pode custar muito mais caro lá na frente. O prefeito Fernando Haddad deixou claro que isso poderia custar investimentos em outras áreas. Então nos preparemos para enfrentarmos reajustes piores no IPTU e em outros serviços públicos como água, gás, luz e telefone. E vamos ficar atentos ao que faltar ainda mais na saúde, educação e segurança. O recado foi claro de que somos nós é que vamos continuar pagando a conta porque eles não vão tirar esse prejuízo do dinheiro gasto com a Copa. Ou alguém acredita que vão?

Mas desta vez, pelo menos o recado maior foi do povo. Nossos governantes sabem o poder que essa massa tem nas mãos e do que ela é capaz. Então, é bom não abusar nem nos fazer de trouxas.

Estive em quase todas as manifestações em São Paulo. Confesso que acompanhei assustado os clamores populares. Mas meu espanto não foi pelo medo do que poderia acontecer com nossa equipe nem das provocações que sofremos. Foi por ver o tamanho e a rapidez da mobilização através das redes sociais. Nem mesmo as lideranças do Movimento Passe Livre, tenho certeza, sabiam no que isso ia dar. E deu no que deu: um imenso despertar de populações insatisfeitas em quase todas as capitais brasileiras. O grito pela redução da tarifa virou o grito pela educação, contra a corrupção, por mais segurança e saúde. Virou o grito do “saco-cheio” de tanta bandalheira desse governo, de tanto desmando. Virou o grito contra o desrespeito.

O governo passa a mão na cabeça agora mas vai nos entubar de outra maneira. Só não podemos deixar que isso nos desanime. As manifestações precisam continuar, o povo precisa sair às ruas cada vez que se sentir lesado. Quem sabe um dia a gente consiga fazer com que parem de nos fazer de palhaços.

Ogg Ibrahim
Ogg Ibrahimhttp://oggibrahim.com.br
Jornalista com 34 anos de profissão, ex-repórter nacional da Rede Record, Mestre de Cerimônias, radialista e Palestrante, Produtor de vídeos e CEO na Talk Soluções em Comunicação.

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