“O gigante acordou”, “o Brasil acordou”, “o povo acordou”! Essas são as frases que mais ouvimos durante os dias de manifestação, protestos e quebra-quebra em quase todo o país. Mas o que devemos nos perguntar é “porque estávamos dormindo por tanto tempo”?
Desde que nos entendemos por cidadãos brasileiros e começamos a pensar e respirar um pouco da política e democracia (pseudo?) em que vivemos, temos aumentos desenfreados em preços de produtos e serviços de todos os gêneros e desmandos gerais na política. Vimos a gasolina saltar para quase três reais, o tomate subir mais de 300%, os aluguéis dispararem a níveis insustentáveis e nunca nos mexemos. Porque passamos tanto tempo desacordados? Essa é a questão que tem de se discutir agora para entender o que realmente está acontecendo no Brasil. Esperamos que não seja apenas uma onda que se torne chata e comece a torrar a paciência da população com paralizações e protestos infundados a todo momento. O gigante acordou mas não pode viver numa insônia perpétua a partir de agora!
O que me causa certa indigestão nessa situação toda, apesar de ter vibrado com esse levante nacional (e excomungado os atos de vandalismo e brutalidade policial) é não ver um foco definido nos movimentos. Uns querem tarifa mais baixa, outros querem saúde, outros educação. Fulano quer a Dilma fora, cicrano não quer Copa, beltrano quer hospital no lugar de estádios. Acho tudo correto e necesário. Mas não seria bom acontecer uma coisa de cada vez e definir o que vem primeiro?
O brasileiro está em alerta, mas só não percebe que deveria lutar contra apenas uma coisa para conseguir todo o resto. O maior levante que deve acontecer nesse país é contra a corrupção. E só contra ela! Pois é a corrupção e o desvio de dinheiro público por ralos infindáveis que faz com que não tenhamos mais escolas, mais hospitais, mais saúde, mais educação, transporte e moradia de qualidade e outras necessidades emergentes. Se acabarmos com os políticos que não se cansam de mamar nas tetas sempre fartas do erário público, brigar pelo resto vai ser muito mais difícil.
E para isso não precisamos nem ir às ruas, parar o trânsito, tirar a paciência de quem precisa ir pra casa ou ao trabalho e muito menos enfrentar a polícia. Nossa maior manifestação, agora, deve ser individual… deve ser NAS URNAS!
O nosso povo aprendeu que com união se consegue muito. As manifestações que ainda se arrastam pelo país provam isso. Mas muito mais que dar as mãos numa caminhada pela Avenida Paulista, o que foi bonito de ver, podemos usar a ponta dos dedos na urna eletrônica para banir aqueles que são os verdadeiros vândalos do patrimônio público. Chega de trocar voto por um punhado de telhas ou por uma conta de luz paga. Chega de votar nesse ou naquele candidato porque ele é bonitinho ou conhecido da grande mídia. Chega de botar lá em cima essa cambada que, depois que assume, só pensa em reforçar o patrimônio pessoal sem um pingo de preocupação com seus eleitores. É claro que existem os bons, os honestos e os de boas intenções. Então, vamos saber quem são e dar nosso voto de cofiança a eles.
Precisamos aprender a acompanhar mais o que rola pelo congresso, saber quais projetos estão sendo aprovados e se eles não são uma ameaça à democracia e a liberdade brasileiras. Devemos cobrar uma participação maior nas decisões do país, agora que sabemos que temos mais respeito. Querem aumentar o ônibus? Vamos exigir ser ouvidos. Querem aumentar a gasolina? Não sem o povo dar o aval. Determinado produto aumentou de preço, deixemos de comprá-los. Aprendemos um pouco nas últimas semanas mas devemos descobrir outras formas de protestar sem que isso afete o dia-a-dia das pessoas, o funcionamento do país. Aí sim, podemos voltar pras ruas para comemorar essa vitória que, verdadeiramente, será a maior de todos os tempos. Já tivemos oportunidades de mudar muita coisa nesse país sem gritaria, sem manifestação nas ruas, sem confrontos com a polícia, através das eleições. Mas quase nada foi feito. Quando se imagina que teremos mudanças, as atrocidades que surgem são ainda maiores. Ainda não aprendemos a votar.
Se quisermos ter uma saúde melhor, uma educação de primeiro mundo, salários decentes, transportes eficientes e uma distribuição melhor de renda, é só acabar com a corrupção que joga no bolso dos ratos políticos mais de sessenta bilhões de reais por ano.
Não precisa bandeira, não precisa foguetório, não precisa de carro de som, nem de cara pintada. Isso só depois, nas comemorações. Precisa-se apenas de união – uma união de pensamento, de foco, de interesse e de desejo. Só nas urnas podemos mudar esse país de uma vez, sem colocar em risco a integridade daquilo que nos é mais valioso – a liberdade e a civilidade!