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sábado, 12 outubro, 2024

Na mira das Luluzinhas

Avaliações começam a gerar ações na Justiça

Uma nova guerra dos sexos permeia nossas redes sociais. Já não bastasse a ferrenha disputa por direitos, espaço, trabalho, salários e carreira, homens e mulheres – ou melhor dizendo, garotos e garotas – agora se engalfinham no campo de batalhas cibernético. Na verdade é mais coisa de quem não tem o que fazer do que propriamente algo que se possa perder tempo avaliando. Mas vou perder um pouco do meu apenas para divagar sobre essa nova febre.

Partiu da advogada britânica Alexandra Chong, de 32 anos, a ideia de criar o aplicativo para mulheres chamado Lulu. Restrito apenas ao “clube da luluzinha”, o programinha nada mais faz do que permitir a avaliação dos carinhas que cada uma tem como amigo no Facebook. Os candidatos são avaliados desde o seu respeito pelas mulheres e qualidades culinárias até o tamanho de suas partes íntimas e o desempenho sexual (muito mais pelo desempenho sexual do que pelo caráter, lógico) e recebem adjetivos que fariam Nelson Rodrigues e Bruna Surfistinha ruborizar. Aliás, a garota de programa que fazia a mesma coisa em seu blog, muitos anos atrás, acha a brincadeira divertida.

Algumas avaliações cheiram à pura vingança, tipo “não gosta da coisa”, “o instrumento é minúsculo”, “não dá conta”, “tem bafo e é cafona”, e por aí vai nível abaixo. As hashtags variam das mais criativas às depreciadoras: #SafadoNaMedidaCerta, #CaiDeBoca, #PerfeitoParaAIrmã, #FeioArrumadinho, #ColocouTocaDorme e #LerdoDemais são as mais singelas. Mas, a meu ver, a brincadeira que é divertida para alguns, parece mais uma coisa de cuspir no prato que comeu. E o pior: o falatório é pelas costas! Os homens não têm acesso ao que elas estão dizendo deles, a menos que alguma amiga mostre no Face.

Algumas meninas deixam transparecer o recalque de terem sido rejeitadas por algum garotão e viram no Lulu, a oportunidade que queriam para enxovalhar o babacapublicamente. Mas há aquelas movidas apenas pela curiosidade como uma que vou chamar de Lolla: “Eu baixei o Lulu pra ver o que falaram do meu ex e tem uma mina que botou a hashtag “#homemDeUmaMulherSó”. Tadinha shuashuashuashuashua!”. 

A maioria dos avaliados, claro, não gostou. E começaram a pipocar no Facebook reclamações e justificativas masculinas para a pontuação baixa e as críticas. Muitos afirmam até que, se fosse o contrário, as mulheres estariam revoltadas. Glauco, um dos avaliados diz: “engraçado que mulher reclama de ser julgada, de ser tratada como objeto, mas tá lá dando nota no “lulu”. 

A coisa ficou tão séria que, após ampla divulgação na imprensa de que o aplicativo, desenvolvido pelo Facebook em associação com a Luluvise Incorporation,  seria capaz de ofender os direitos da personalidade de milhões de usuários do sexo masculino, a Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor do Distrito Federal instaurou um inquérito civil público contra as duas empresas.  Elas têm o prazo de cinco dias para prestar esclarecimentos sobre o assunto. Inclusive um estudante de direito de São Paulo entrou com uma ação judicial na 2ª Vara do Juizado Especial Cível, na capital paulista, contra o aplicativo Lulu e o Facebook e pede uma indenização de R$ 27 mil. O jovem se sentiu ofendido por ter sua imagem exposta no aplicativo e pelos comentários feitos.

Mas, independentemente da ação do Ministério Público e as que começam a aparecer na Justiça comum, os homens pretendem dar o troco: há rumores de que está em desenvolvimento o aplicativo Pepeca (siiiimmmm, o nome faz alusão a aquilo mesmo que vocês estão pensando) que fará a mesma coisa com as mulheres. E nesse “clube do bolinha” elas também não entrarão. Agora, vindo dos homens, não esperem a mesma delicadeza nas hashtags. Me recuso até a repetir aqui o que já ouvi de sugestões por aí.

Brincadeira ou não, a internet conseguiu mais uma proeza: fazer com que milhares de pessoas se envolvam numa polêmica sem sentido e, para muitos, uma brincadeira sem graça. Afinal, qual mulher vai perder tempo para analisar as avaliações dadas através do Lulu a um possível candidato a namorado? E será que uma avaliação negativa pode melar o futuro relacionamento? Vai saber, né? Tem louco e desocupado pra tudo nesse mundo!

Vale lembrar que o Facebook, antes The Facebook, começou exatamente porque Mark Zuckerberg (seu criador) levou um pé na bunda da namorada e, por isso, colocou várias fotos de meninas da universidade na rede para serem avaliadas. Uma brincadeira de mau gosto que pode ter agora no Lulu sua vingança tardia.

 (Em tempo: quando escrevi este artigo ainda não se falava no Tubby. Vi agora (tres dias depois) que no lugar de “Pepeca”, este será o nome do novo app vingantivo. Tubby é o nome inglês para o Bolinha que deu nome ao Clube masculino).

Ogg Ibrahim
Ogg Ibrahimhttp://oggibrahim.com.br
Jornalista com 34 anos de profissão, ex-repórter nacional da Rede Record, Mestre de Cerimônias, radialista e Palestrante, Produtor de vídeos e CEO na Talk Soluções em Comunicação.

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