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sexta-feira, 3 maio, 2024

Carinho de pai com Chico Anysio

 

Chico (à esquerda) e meu pai (comigo no colo, a direita). Curiosa semelhança.

O Brasil perdeu um de seus artistas mais ilustres. Talvez o que mais tenha retratado o país com seus personagens. Foram mais de duzentas caracterizações, mais que qualquer outro humorista conseguiu criar. Além disso ele era multifacetário: Chico Anysio humorista, Chico pintor, Chico escritor, Chico cronista, Chico diretor, Chico roteirista, Chico crítico, Chico gênio!

Hoje nos divertimos com as atuações no palco de Danilo Gentili, Diogo Portugal, Tom cavalcanti e outros Stand Up Comedians que surgiram nos últimos tempos. Mas muitos de nós nem imaginam que foi Chico Anysio, lá pelos anos 70, o precursor deste tipo de apresentação. Foi ele que, há quase 40 anos, começou a divertir a todos sozinho no palco, apenas com um microfone na mão. E fazia rir com seu humor clássico, refinado, sem palavrões… um verdadeiro lorde do humor.

Vários de seus bordões viraram gíria – “vapt-vupt” do Professor Raimundo foi um deles. “Calada!”, do Nazareno, também. Seus personagens também homenagearam o povo brasileiro de norte a sul do país e de leste a oeste. Quem não se lembra da Gaúcha Salomé, amiga do ex-presidente João Figueredo. Ou dos corruptos Justo Veríssimo e Walfrido Canavieira, que retrataram com fidelidade nossos polítios até os dias de hoje. Nazareno, Painho, o pai de santo homossexual e outros tantos que deixaram sua marca e faziam críticas ao momento da política nacional sem serem agressivos, grosseiros ou desbocados.

Guardo um carinho imenso por Chico por um fato curioso: uma semelhança fisionômica (talvez alguns não achem) muito grande com o meu pai que, inclusive, chegou a ser confundido com ele na rua várias vezes. Como gostava de contar sempre, meu pai chegou a dar autógrafos por causa disso, se divertindo com a situação. Houve até uma vez em que os amigos dele, numa ida a um restaurante famoso em São Paulo nos anos 70, disseram ao gerente que “Chico Anysio” estava chegando. Sem saber da brincadeira, meu pai foi recebido com a pompa de um artista e o restaurante nem quis lhe cobrar a conta. Só no dia seguinte ficou sabendo da brincadeira – voltou ao restaurante, pagou a conta e esclareceu a brincadeira com o gerente que até achou graça da semelhança.

Toda vez que eu ainda criança o via na TV, saía gritando “Olha o pai na TV, olha o pai na TV”. Perdi meu velho cedo demais e ao ver imagens do Chico hoje, com a mesma idade que ele teria, imagino como meu pai seria se não tivesse partido tão cedo.

À este grande mestre, inteligente e refinado, minha homenagem carinhosa. E que aqueles que imitaram seus passos consigam continuar construindo a estrada humorística que Chico pavimentou, fazendo-nos rir para, mesmo que por alguns momentos, pudéssemos esquecer as coisas erradas e tristes deste país.

Ogg Ibrahim
Ogg Ibrahimhttp://oggibrahim.com.br
Jornalista com 34 anos de profissão, ex-repórter nacional da Rede Record, Mestre de Cerimônias, radialista e Palestrante, Produtor de vídeos e CEO na Talk Soluções em Comunicação.

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2 COMENTÁRIOS

  1. Fiquei algum tempo olhando essas fotos sem entender.Os dois são iguais. Incrível!!!Só que você deve parecer com a Mae. Porque que criança linda você hein?? Falar de Chico é fácil difícil é saber que não o teremos nunca mais. Restará a lembrança do gênio do humor saudável!!. Vá em paz meu caro Rei. Obrigado pela alegria que me proporcionou. Até um dia!!!!!! Choro tanto!!!!

  2. O vapt-vupt, uma interjeição onomotopaica, já existia antes do Professor Raimundo. Mas ele, sem dúvida, a popularizou ainda mais, a consagrou, definitivamente. Digo, também, que o humor não tem estrada e que, muito menos, alguém ou algum seja capaz de pavimentá-la. Porque, repare, a estrada, o caminho que o humor toma hoje é patético. Diria um corredor polonês, um passeio pelas masmorras de castelos medievais, ou um pernoite na casa da Família Adams! Será Chico insubstituível? Digo que sim. Muitos já existiram e morreram. Apenas o mundo teve que se conformar em continuar sem eles. Com Chico será assim. Forçosamente! Nenhum desses que anda por aí tem a mínima chance de fazer o que ele fez. Alguns são verdadeiros casos de polícia! O que será do humor brasileiro, do jeito que as coisas vão? Não sei. A Lei não resolverá. O humor tem que ser livre. É até libertador. Só a censura de cada um, o bom senso, será capaz de peneirar esta arte, consagrando uns e condenando às sombras acho que a grande maioria. Mas que seu pai parece com Chico Anysio, ah! parece! Você, não, como disse Jael Kuster, que é mulher ou tem alma feminina. Chico Anysio é insubstituível, sim!!!

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