Mais uma vez a história se repete: um motorista embriagado, perde o controle do carro, atropela um grupo de pessoas e alguém morre. O enredo ilustra pelo menos umas seis matérias que fiz nos últimos doze meses para a Record. Sem contar a produção de outros repórteres sobre o mesmo assunto. A última foi nesse dia 16, sábado.
Um grupo de corredores treinava no campus da USP em São Paulo como fazia costumeiramente nos fins de semana. De repente, um carro desgovernado avança sobre eles. Três mulheres e um homem ficaram feridos e precisaram de atendimento nos hospitais da região. O maratonista Álvaro Teno, de 68 anos, foi socorrido mas não resistiu aos sérios ferimentos e morreu uma hora e meia depois no hospital.
O responsável pela morte foi um pedreiro que conforme as imagens mostram (assista a matéria abaixo) estava visivelmente embriagado. Um detalhe: as 9 da manhã. Outro detalhe: disse ele que saiu de casa para trabalhar numa obra dentro da USP. Saiu de casa para trabalhar e estava mamado? Conta outra!
(http://noticias.r7.com/videos/motorista-embriagado-mata-uma-pessoa-e-deixa-quatro-feridas-no-campus-da-usp-sp-/idmedia/53efe14f0cf23dee1298faab.html
E assim, mais uma pessoa morre, vítima da irresponsabilidade de algum imbecil. Cade a fiscalização prevista na Lei Seca? De que adianta a tolerância zero que tornou a lei mais rigorosa um ano atrás? São perguntas que, acredito, vamos estar nos fazendo daqui mais uns anos e nada terá mudado a respeito dessa irresponsabilidade de muitos.
A Lei Seca hoje estabelece o seguinte: quem for pego dirigindo com 0,1 mg a 0,3 mg de álcool no sangue, atestado pelo bafômetro, tem a CNH suspensa, o carro é apreendido e paga multa de R$ 1.915,00. Acima de 0,3 mg, tem tudo isso e o motorista ainda vai preso e responde a um processo. Mas, apesar das sanções, parece que ainda há muita gente que não está nem aí para o “se beber não dirija, se for dirigir, não beba”.
Felizmente, as estatísticas apontam uma regressão dos acidentes desde que a Lei Seca ficou mais rigorosa em 2012. Os testes de bafômetro aumentaram e o número de prisões também. Mas isso ainda não tem sido suficiente. O ideal é que a Lei baixasse o número de motoristas embriagados ao volante a zero. Só assim teríamos menos mortes no trânsito.
Na minha opinião as penas e multas ainda são muito brandas, fazendo aqueles que bebem pensar que basta pagar uns trocados ali pra escapar e ir pra casa curar a ressaca. E perder a carteira? Conheço muita gente que dirige sem habilitação ou com habilitação vencida e nunca foi parado em São Paulo, por exemplo. Então o que acontece? O cara é pego, paga a multa (que não é assim tão esfoladora para quem põe a vida dos outros e a própria em risco), perde a carteira e no dia seguinte tá lá, de novo, rodando no trânsito como se nada tivesse acontecido.
Apesar dos órgãos de trânsito afirmarem que as blitz continuam, elas realmente só tem acontecido em períodos pontuais, como feriados, fins de semana e época de festas (Carnaval, Natal, Reveillon). E justamente próximo a regiões repletas de bares e restaurantes. Ou seja, é uma fiscalização sazonal e ineficiente. Enquanto isso, nas periferias, algumas consideradas terras sem lei, a irresponsabilidade corre solta com mortes e mais mortes a cada semana.
O pedreiro que matou o maratonista será, talvez, quem sabe, provavelmente, condenado por embriaguez ao volante, lesão corporal e homicídio culposo (que não teve a intenção de matar). E com certeza arrumará um bom advogado que o livrará da cadeia em 48 horas para responder o processo em liberdade por ser réu primário. E não duvido que volte a dirigir por aí, mesmo sem habilitação, porque sabe que dificilmente será parado numa blitz.
Para mim as punições tem de ser ainda maiores, trazer consequências ainda mais severas para quem acha que está acima da lei. Bebeu, não importa o quanto, a cadeia por um tempo pode ser o melhor caminho. Além é claro de uma multa muito superior a de hoje – porque sabemos que quando pesa no bolso, a coisa ferve. E pode ser que alguém esteja questionando “Ah, ele diz isso porque não deve beber”. Bebo sim, moderadamente, e quando sei que passei dos limites a primeira coisa que faço é entregar as chaves do carro pra esposa. Admito que já dirigi depois de tomar algumas taças de vinho porque achei que estava em perfeitas condições de fazê-lo. E esse é o nosso maior erro, acreditar que estamos com total controle dos nossos reflexos quando, muitas vezes, não é bem assim. O presidente da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), Dirceu Rodrigues Alves Jr, diz que “Não é só o embriagado que vai se acidentar, é o sujeito que fez uso do álcool. Aquele que não consegue ficar em pé, é um criminoso. Agora, aquele que está fazendo uso e parece estar bem é o risco, porque vai se acidentar ou causar um acidente”.
E não depende da lei ser ou não mais rigorosa. O que importa é a nossa conscientização. As leis são para os irresponsáveis. O dia em nos tornarmos responsáveis não precisaremos mais de leis.