A história é de um vídeo que vi na internet. Um jovem caminha pela rua a procura de um endereço. Nas mãos, um pequeno pedaço de papel com o nome da rua e o número da casa. Na esquina ele cruza com uma jovem e lhe pergunta onde fica tal endereço. Ela aponta o caminho, eles caminham juntos e as cenas que se seguem mostram a evolução daquele primeiro contato: o namoro, o casamento, os filhos e a vida feliz que os dois levaram juntos. Tudo por causa de um pequeno papel e um endereço.
Imagine a cena de repetindo nos dias de hoje. Ao invés do papel, o jovem tem nas mãos um celular com o Maps, do Google, aberto. Ao passar pela mesma esquina em que a jovem aparece, com os olhos grudados na tela do aparelho, ele segue em frente, sem ao menos olhar para a moça, seguindo as orientações do seu guia eletrônico. Perdeu a oportunidade de conhecer alguém, de ter uma vida bela e feliz. Não importa o que pode ter acontecido com ele depois daquele momento em que cruzou com a moça nessa segunda versão da história. Importam as oportunidades que, às vezes, perdemos por estarmos viciados na tecnologia e na pseudoliberdade que nossos tablets e smartphones nos oferecem.
Sento à mesa de um café em São Paulo, numa praça extremamente agradável e começo a observar as coisas à minha volta. Um belo e pequeno lago com carpas amarelas, alaranjadas e brancas nadando na água cristalina, o barulho da cachoeirinha que oxigena a água, as flores diversas que colorem o paisagismo do local, pássaros voando pra lá e pra cá e gorjeando efusivamente. Observo também as pessoas que passam. A morena bonita de vestido florido, o homem sério de terno falando ao telefone, a mãe que toma sorvete com a criança, o casal de idosos que caminham como dois namorados.
Mas vejo também aquilo que cada vez mais me assusta: pessoas sentadas próximas a mim, no mesmo café, perdendo tudo isso que vi por estarem com os olhos colados em seus celulares, riscando os dedos na tela nervosamente.
A jovem de cabelos pretos sorri, sozinha, talvez contagiada por alguma mensagem ou foto que encontrou. A outra, ruiva, à sua frente na mesma mesa, digita algo rapidamente e gesticula como se estivesse conversando pessoalmente com alguém. O homem de camisa e gravata, sem paletó, devora o tablet apoiado na mesa abrindo as páginas do Facebook, curtindo, comentando ou compartilhando alguma coisa, enquanto grava mensagens pelo Whattsapp. Vejo que seu semblante muda a cada resposta.
Na outra mesa, uma mãe fala ao telefone enquanto seus dois filhos adolescentes, um menino e uma menina – ela com fones de ouvido balançando a cabeça como quem ouve uma música – se divertem com seus gadgets, sem prestar atenção um no outro. A impressão que dá é que qualquer um que levantasse da mesa e fosse embora não teria sua ausência notada. Mal sabem eles, mas estão todos solitários em seus mundos virtuais particulares.
Saio dali caminhando, passo em frente a pontos de ônibus e vejo um grupo de pessoas, cada um trancado no “gigantesco” mundo do seu celular, sem conversar, sem se olhar, sem prestar atenção naqueles que os cercam.
A tecnologia que nos abre portas cada vez mais amplas e nos permite ir cada vez mais longe na internet e na comunicação com outras pessoas está criando diversos universos isolados – cada pessoa no seu, interagindo com o que está distante dos seus olhos, mas sem perceber o que está próximo. Não buscamos mais a satisfação num sorriso devolvido, mas sim em centenas de “curtidas” e “joinhas” em algo que postamos numa rede social. E quando as curtidas são poucas, bate a frustração, a insatisfação e o desencanto. É incrível como os comentários numa foto surtem mais efeito de satisfação do que ganhar um abraço, um aperto de mão ou um elogio verbal. É triste ver como uma mensagem de Whattsapp pode ser mais poderosa que a voz de alguém ao pé do ouvido.
A mocinha que fica quase uma hora olhando para a tela de um celular enquanto devora rapidamente um lanche, ri, chora, se enraivece e fica perplexa a cada deslizada do dedo na tela. Acredito que ela pense: “Nossa, que mundo maravilhoso este a que tenho acesso”. Mas no fundo ela esta sozinha diante do mundo que a cerca. Ela poderia, a exemplo do caso que cito no início deste artigo, prestar atenção e trocar sorrisos com o jovem bem apessoado que senta à sua direita e, quem sabe, iniciar uma relação verdadeira. Mas não, talvez ela prefira trocar mensagens com algum paquera que está a milhares de quilômetros de distância.
Percebi que os ambientes de bares, restaurantes, cafés e salas de embarque de aeroportos estão mais silenciosos. Basta um olhar pouco atento para perceber que quase ninguém mais conversa – a maioria está imersa, e porque não dizer “submersa”, em seus celulares. Mesmo entre os casais, as famílias, os amigos que viajam juntos. Cada um no seu mundo particular que é exposto na internet. Até mesmo para quem não se conhece.
Na minha opinião, as redes sociais, estão tornando as pessoas cada vez mais anti-sociais. Hoje é mais fácil alguém passar uma mensagem pelo “Zap-Zap” do que fazer uma ligação. E não venham me dizer que “porque é mais barato”. Muitos que fazem aniversário, acham mais prazeroso e satisfatório ler centenas de mensagens no Facebook do que receber meia dúzia de ligações. Não precisamos mais reunir as pessoas em casa para ver as fotos ou o vídeo daquela viagem de férias. Basta postar no Instagran. “Uau! Mas isso é maravilhoso!” comemoram os aficcionados. Mas será mesmo que tem mais graça ver uma mãozinha azul com sinal de positivo, de alguém que não conhecemos, do que receber o abraço elogioso de um amigo pessoalmente? Com certeza não!
As redes sociais são a grande invenção da humanidade, concordo. Nos “aproxima” de amigos há muito distantes, mas apenas virtualmente. Na maioria das vezes nem os encontramos pessoalmente e eles passam a ser apenas expectadores das nossas postagens. Também nos tornamos preguiçosos. Afinal é mais fácil falar para um grupo de seguidores, mesmo que alguns não estejam nem aí pra você, do que com cada um deles.
Estamos nos distanciando dos nossos reais sentimentos. Rimos sozinhos, falamos sozinhos, recebemos reações virtuais, choramos, comemoramos, brigamos e xingamos, olhando apenas para uma tela. Enquanto isso, as oportunidades de felicidade que podemos ter em cada esquina, nos passam despercebidas como a segunda versão da estória que relatei no começo. Mesmo que fossem oportunidades de ver ou ouvir algo belo, algo que nos tocasse os sentidos como a audição, o olfato, a visão e o tato. E com isso não nos damos conta de que ao invés de nos aproximarmos, estamos nos distanciando das pessoas e acabando com a maravilhosa sensação de olhar nos olhos. E isso sim está se tornando coisa do passado!