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domingo, 6 outubro, 2024

O TEMPO QUE SÓ O TEMPO PODE TE DAR

No último mês de novembro, fez dois anos que estou de volta a Campo Grande. Nossa… como passou rápido! Parece que foi outro dia que eu deixava São Paulo e uma carreira no jornalismo nacional para voltar à terra em que não nasci, mas que me adotou de braços abertos há 30 anos. E foi uma das melhores decisões que tomei em toda a minha vida.

Sei que há gente que pensa que foi um retrocesso na minha profissão, mas mal sabem estes que a escolha que fiz – e foi uma escolha pessoal, não a única saída – foi um upgrade na minha vida. É que chega um momento em que a gente descobre que bons salários, status profissional, uma bela carreira só tem valor se você está feliz, caso contrário se tornam benefícios meramente compensatórios. E a felicidade vem quando você percebe que existem coisas mais valiosas que isso.

Traduzo o que eu quero dizer de uma forma bastante simples: pouco antes de escrever este artigo, estava eu brincando na piscina com a milha filha, na calorenta manhã de uma quinta feira. Mas, peraí… quinta-feira, quando a maioria dos mortais esta trabalhando? Siiiiiim, quinta-feira, um meio-de-semana em que me dei ao luxo de aproveitar a manhã ao lado da minha filha. Muitos devem se perguntar neste momento se estou rico ou desempregado.

Nem uma coisa, nem outra. Graças a Deus consegui construir minha vida baseada em viver de forma simples, sem ostentações e sem a necessidade de me matar trabalhando. O que ganho hoje paga minhas despesas básicas e o que construí ao longo dessa vida me dá o conforto de poder escolher o que fazer. Hoje não penso mais no quanto eu quero ganhar, mas no que eu preciso ganhar e o tempo que terei livre.

Com isso, não preciso mais virar refém ou escravo do meu trabalho como fui durante estes quase 30 anos. Agora sou refém, sim, do tempo que dedico à minha filha e aos prazeres em família. Mas deste “sequestro” eu não quero me livrar tão cedo, pois adquiri “Síndrome de Estocolmo” pelas minhas carcereiras.

Engraçado é que quando você adota certa postura em relação ao dinheiro, sem viver essa busca insana que muitas pessoas vivem, ele acaba vindo naturalmente, até mais do que se imagina. E digo isso porque, horas antes de ir curtir piscina com a minha filha e escrever este artigo, eu tinha acabado de sair de uma reunião com uma proposta tentadora de trabalho durante esse restinho de campanha. Rejeitei por uma questão de imparcialidade profissional, afinal acho que jornalistas não tem que defender bandeiras, e por não querer comprometer meu tempo dedicado às pessoas que mais amo.

Alguém vai dizer “esse cara é louco” ou “tá jorrando dinheiro pela torneira”. Não, meus amigos, estou longe da posição privilegiada dos que tem dinheiro sobrando no banco, muitas vezes até falta um pouquinho pra pagar as contas. Vai fazer falta? Vai, mas a felicidade e a independência de viver sob minhas próprias escolhas, não tem preço. É o maior salário que alguém pode ganhar na vida!

Outro dia perguntei pra minha filha de seis anos: “Filha você queria que eu ganhasse mais dinheiro ou ficasse mais tempo com você?”. Ela solenemente me respondeu: “Se você ganhasse mais dinheiro, poderia me dar mais presentes. Mas eu prefiro você pobre, desde que brinque mais comigo”. Sorri e a abracei da maneira mais forte que eu podia. Afinal, dá pra rejeitar um pedido desses?

Ogg Ibrahim
Ogg Ibrahimhttp://oggibrahim.com.br
Jornalista com 34 anos de profissão, ex-repórter nacional da Rede Record, Mestre de Cerimônias, radialista e Palestrante, Produtor de vídeos e CEO na Talk Soluções em Comunicação.

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