Tenho visto com enorme assombro a popularidade que o goleiro Bruno, ex-flamengo, tem ganho na mídia. Sim, justo ele, julgado e condenado por um crime que chamar de hediondo seria simplificá-lo, tamanha crueldade e desumanidade com que foi cometido. E posso falar isso com propriedade pois acompanhei de perto as investigações e o julgamento em Minas Gerais para o Jornal da Record.
Bruno, segundo a polícia e a justiça, se não o fez com as próprias mãos, mandou sequestrar, matar, esquartejar e dar pedaços do corpo da modelo Elisa Samúdio aos cães do sítio de sua propriedade em Esmeraldas (MG), tudo com a ajuda de amigos igualmente cruéis.
Agora, mesmo com toda a torpeza do caso, o jogador foi liberado pelo STF de cumprir seus 22 anos de pena (ficou apenas seis na cadeia) e goza da liberdade e da fama aumentada com a contratação para jogar na equipe do BOA Esporte Clube, um time de segunda divisão da cidade de Varginha, interior de Minas Gerais.
A contratação, apesar das explicações do diretor de futebol do clube, Roberto de Moraes, tem apenas o objetivo de chamar a atenção da mídia para um time que há bem pouco tempo mal se sabia que existia, a não ser pelos moradores da cidade e da região (mais famosa por causa do ET que teria aparecido por lá em 1996). O clube teve os contratos com patrocinadores cancelados quando a contratação foi confirmada, mas isso parece não preocupar a diretoria tamanha a repercussão do caso.
Muitos vão dizer que Bruno tem o direito de estar fora da cadeia, de tentar recomeçar a vida, de ser reintegrado à sociedade. Direito constitucional sim, porque está previsto na Lei Penal. Mas, na minha opinião, assassinos como ele que fizeram o que comprovadamente ele fez – e não sou eu que estou dizendo, foi a própria justiça que o soltou – não deviam ter direito a deixar a cadeia por qualquer benefício da lei. Isso me dá a certeza de que você pode sequestrar, matar, esquartejar e ainda assim deixar a prisão com apenas um terço da pena cumprida e voltar a viver a vida como se nada tivesse feito e ainda como “vítima do sistema”.
Condenados por crimes desta natureza deveriam cumprir suas penas até o fim, passando toda a sua vida lá dentro trabalhando pesado para custear suas despesas que saem dos nossos bolsos. Para assassinos como ele, Christhiane Richtoffen, Guilherme de Pádua (assassino da atriz Daniela Perez) e o casal Nardoni, só para citar alguns exemplos, a lei não deveria dar oportunidades e sim cobrar-lhes pelas vidas que eles cessaram de forma tão desumana.
Podem me chamar de facista, reacionário, do que quer que seja, mas não posso me calar diante de uma atrocidade, de uma vergonha como esta. Pior é ver que algumas pessoas, sem ter a mínima noção da gravidade do que ele fez, estão colocando Bruno no mesmo pedestal das celebridades, com direito a dar autógrafos e tirar selfies por onde passa em Varginha. E ainda estampando capas de sites e de jornais pelo Brasil afora.
E enquanto milhares de brasileiros amargam o desemprego e os baixos salários, aposentados brigam para ter um mínimo de dignidade e manter os benefícios da previdência social, Bruno sai da cadeia para receber um salário de 30 mil reais.
O STF não cometeu um erro judicial ao permitir a liberdade de Bruno, pois a lei (que precisa de mudanças emergenciais) prevê esse tipo de benefício aos apenados que já cumpriram determinado tempo da sentença, mas cometeu um erro moral e cívico ao colocar na rua um condenado de tamanha gravidade. E a diretoria do BOA, de forma perversa, se aproveita disso!
Na entrevista concedida ao Fantástico (Rede Globo) nesse domingo, o diretor do clube tentou justificar o apoio a Bruno querendo sensibilizar a opinião pública quando perguntou ao repórter Paulo Gonçalves, amigo meu e ex-colega de TV Morena, “E se fosse o seu filho?”.
E eu lhe pergunto, Sr Roberto de Moraes, “E se Elisa Samúdio fosse sua filha?”.