Nesse fim de semana fiz uma coisa que me levou a refletir ainda mais sobre a questão “superar-se a si próprio”. Não foi nada demais para a maioria das pessoas bem mais jovens que eu. Mas foi uma sensação gratificante me propor um desafio, tentar desistir no meio, mas depois encher o peito, respirar fundo e seguir em frente. E não importa o que a maioria de vocês achem – “que besteira, tem coisa pior que isso, já fiz muito mais” – sempre que eu conseguir ser melhor em coisas que já fiz antes, terei a sensação de conquista, de vitória.
Ultimamente a bicicleta se tornou uma grande companheira que tem me trazido satisfação e qualidade de vida muito melhor. Os exercícios me deram a vitalidade de um homem com pelo menos 15 anos a menos, fora o prazer de praticar uma atividade que pode ser desenvolvida ao ar livre. Além disso perdi 14 quilos de uns meses para cá, baixei consideravelmente taxas de colesterol e açúcar e até percebi mudanças significativas na memorização e reflexos. Por tudo isso tenho tentado, a cada dia, superar meus limites nas pedaladas.
Domingo acordei cedo para dar uma volta. Peguei o eixão (as asas de Brasília) e fui em frente. Foram 22 quilômetros ida e volta até o hotel onde estou hospedado. Fui almoçar e voltei lá pelas 17h. Eu tinha um jantar na casa de um amigo num bairro um pouco mais distante. Deu um estalo e decidi ir pedalando. Escureceu, era uma estrada quase sem movimento e, para compensar, caiu o maior toró. Num dado momento até bateu um desespero que me fez ver, pelos riscos, o tamanho da idiotice. Mas de repente enchi os pulmões de ar, já acelerados pelas pedaladas firmes, e dei um berro que deve ter sido ouvido até no Congresso. Isso me encheu de energia e me fez pensar “Pô, começou? Agora termina!”. O odômetro da bike marcavam 27 quilômetros quando parei na porta da casa do meu amigo, querendo colocar o coração pela boca, ensopado e com a sensação de mais uma conquista.
Por um momento pensei que nunca mais faria aquilo de novo. Oras, era um caminho que eu não conhecia, percorrido de noite, com pouca iluminação e debaixo de chuva, num lugar completamente ermo. Pensei que eu poderia ter gasto uns 50 reais de taxi e já estar ali, em segurança, tomando vinho há pelo menos uma hora e meia. Pensei no risco que corri de ser assaltado, atropelado ou de me perder. Mas esses pensamentos foram suplantados pelos de desafio vencido.
A história pode não representar nada para vocês. Existem desafios muito maiores que esses nas nossas vidas, mas a relevância do fato está na determinação que faz a vida realmente valer a pena. Tenho 47 anos de idade e não me propunha a isso nem mesmo quando tinha metade dessa idade. Também estou prestes a encarar outro desafio que é a doação de um rim, muito mais importante que uma pedalada.
E o que pretendo com isso tudo? Entender ainda mais que não devemos reclamar quando somos impostos a desafios que serão bem menores, como uma mudança de emprego, de cidade, a perda de alguém, uma mudança de comportamento, etc.
Usei minha pedalada (de 50km, se somada a da manhã) apenas como metáfora do que eu quero dizer. Jamais devemos pensar que não temos capacidade para enfrentar o que a vida nos apresenta. Não podemos nos acomodar, fugindo de tarefas que imaginamos não dar conta ou ficar no conforto da nossa resignação. O que devemos fazer, sempre, é impor a nós mesmos a superação de alguns limites para saber até onde podemos chegar. E pode ter certeza de uma coisa: você vai se surpreender quando descobrir o que realmente é capaz de fazer.
Parabéns pelo feito, 50 quilômetros de bicicleta. Eu tenho 27 anos e não corro nem 1 quilômetro a pé. Parabéns pela coragem e atitude de doar um órgão.